São Paulo - A entrada de renda e promoções sazonais podem refletir melhora no quarto trimestre de 2016 para o financiamento de veículos. Com alta inadimplência e renegociação, no entanto, financeiras das montadoras projetam retomada só no segundo semestre.
As comparações dos consolidados do ano e dos 12 meses encerrados em novembro, porém, demonstram quedas de 11,4% e 13,7%, respectivamente, para pessoas físicas e de 7,8% e 10,2% para pessoas jurídicas.Os últimos dados do Banco Central (BC) apontam que, na relação de novembro contra outubro, a concessão de recursos para aquisição de automóveis cresceu 10,7% para pessoas físicas (de R$ 5,991 bilhões para R$ 6,634 bilhões) e 7,3% para pessoas jurídicas (de R$ 668 milhões para R$ 717 milhões).
Para Gilson Carvalho, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), as movimentações do final do ano são "esperadas" , mas há "insegurança" no mercado.
O executivo ainda afirma que, de um lado, há uma grande entrada de renda somada às promoções ligadas ao ano de fabricação dos carros; e, do outro lado, "não dá para "desconsiderar a forte retração na procura pelo financiamento".
"Com os atuais níveis de desemprego e inadimplência, os bancos e financeiras também estão mais cuidadosos em analisar as dívidas e o perfil do tomador, principalmente por quanto é possível a entrada e pelo risco inerente das demais parcelas", identifica.
Ainda de acordo com dados do BC, a inadimplência no crédito para aquisição de veículos, apesar de estável, continua em patamares elevados, em 4,7% para pessoas físicas e em 5,2% para pessoas jurídicas.
Segundo Bernd Barth, presidente do Banco Mercedes-Benz, o segmento tem tentado trabalhar de forma "proativa" com seus clientes para "ter impactos menores".
"A crise afetou todas as instituições financeiras em diferentes níveis e, como mais de 80% da nossa carteira está concentrada em ônibus e caminhões, o maior impacto foi nos clientes comerciais", explicou.
Realidade de Mercado
O presidente Bernd Barth ressalta, porém, que a maior "proximidade com os clientes em relação à cobrança para renegociação de dívidas também facilitou todo o processo e ajudou a aumentar o número de novos negócios".
Segundo Tatiana Silva, diretora de operações do Banco Mercedes-Benz, a tendência de alta nas renegociações ainda continua em 2017.
"Não houve deterioração da carteira, mas uma adaptação ao fluxo de caixa dos clientes. É um trabalho contínuo para identificar as dificuldades e evitar um problema sem volta", explica a executiva.
Além do acréscimo em novas concessões de 19% em dezembro frente igual mês de 2015 (de R$ 146,3 milhões para R$ 174 milhões), o banco conquistou, pela primeira vez, superar os cinco maiores bancos do País no ranking de repasses da Agência Especial de Financiamento Industrial (Finame) entre as instituições credenciadas no Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).
Nesse sentido, foram liberados mais de R$ 1,56 bilhão no ano passado, para financiar a compra de 11.473 veículos pesados. Este montante é 2,6% superior ao registrado em 2015, que foi de R$ 1,52 bilhão, e está em primeiro lugar no ranking do BNDES, seguido por Bradesco e Itaú Unibanco.
De acordo com Marcelo Festucia, diretor de crédito do Banco Mercedes-Benz, os ajustes na política de crédito também foram essenciais.
"É preciso entender a transformação do mercado. Continuar cauteloso, mas se adaptar à nova realidade dos clientes para buscar o máximo equilíbrio possível continuar financiando e manter a qualidade da nossa carteira", comenta.
"Nós vamos voltar o crescimento alguma hora. Pode demorar um pouco, mas vamos retomar", conclui Silva.
Isabela Bolzani
Diego Lima e Luiz Lima da Planefisco Consultoria Empresarial,
Em São Paulo (SP)